Da terra sai um cheiro bom de vida
e nossos pés a Ela estão ligados.
Deixa que teu cabelo, solto ao vento, (1)
Que em mim perdure, o que te morre cedo
e que te permaneça o que tenho perdido.
Que cresça, se desenvolva um teu sentido (2)
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia! (3)
Sonhando um destino de madrepérolas
entre verdes prados, cárceres graciosos
abraça olímpios regatos, o coração. (4)
Então tudo em mim lhe comunica um mundo
que estando do lado de cá passa para
o centro dela e fica dentro da sua alma. (5)
E hoje a terra é livre e fácil como o céu das aves:
a estrada branca e menina é uma serpente ondulada
e dela nasce a sede da fuga como as águas dum rio. (6)
(1)- Ariano Suassuna
(2)- Bruna Lombardi
(3)- Álvares de Azevedo
(4)- Fernando Oliveira
(5)- João de Melo
(6)- Fernando Namora
Os mistérios da noite
Como uma pequena lâmpada subsiste
e marcha no vento, nestes dias,
na vereda das noites,
sob as pálpebras do tempo. (1)
Fez-se noite com tal mistério,
Tão sem rumor, tão devagar,
Que o crepúsculo é como um luar
Iluminando um cemitério . . . (2)
No pedregal da cripta e sombria
noite suburbana,
me transformo… (3)
Em múmia neotérica que bebe
o evo trôpego na folia da veia,
e tropeça na sombra dum lampadário. (4)
Pressinto a curva oculta do planeta
a contraluz das mãos que agito
repletas de pó sangrento. (5)
Ontem à meia-noite três relógios distintos bateram:
primeiro um, depois outro e outro:
o eco do primeiro, o eco do segundo, eu sou o eco do terceiro. (6)
(1) - António Ramos Rosa
(2) - Cecília Meireles
(3) - Betânia Lisboa
(4) - Fernando Oliveira
(5) - Maria Costa
(6) - António Maria Lisboa
e marcha no vento, nestes dias,
na vereda das noites,
sob as pálpebras do tempo. (1)
Fez-se noite com tal mistério,
Tão sem rumor, tão devagar,
Que o crepúsculo é como um luar
Iluminando um cemitério . . . (2)
No pedregal da cripta e sombria
noite suburbana,
me transformo… (3)
Em múmia neotérica que bebe
o evo trôpego na folia da veia,
e tropeça na sombra dum lampadário. (4)
Pressinto a curva oculta do planeta
a contraluz das mãos que agito
repletas de pó sangrento. (5)
Ontem à meia-noite três relógios distintos bateram:
primeiro um, depois outro e outro:
o eco do primeiro, o eco do segundo, eu sou o eco do terceiro. (6)
(1) - António Ramos Rosa
(2) - Cecília Meireles
(3) - Betânia Lisboa
(4) - Fernando Oliveira
(5) - Maria Costa
(6) - António Maria Lisboa
Misteriosa raiz
Não há morte que não dedilhe
nesta pedra
de seco arbusto (1)
As sementes que forjam a vida
dum trevo de quatro folhas
que expande a casta na terra áspera. (2)
É verde esta secura, como é verde
a raiz duma planta que secou. (3)
Se a terra, às vezes, brota a flor, que não inspira,
a teatral camélia, a branca enfastiada. (4)
Floriram por engano as rosas bravas
No Inverno: veio o vento desfolhá-las... (5)
na corrente do riacho
vão as folhas secas. (6)
(1) - José Emílio-Nelson
(2) - Fernando Oliveira
(3) - Albano Martins
(4) - Gomes Leal
(5) - Camilo Pessanha
(6) - José Felix
nesta pedra
de seco arbusto (1)
As sementes que forjam a vida
dum trevo de quatro folhas
que expande a casta na terra áspera. (2)
É verde esta secura, como é verde
a raiz duma planta que secou. (3)
Se a terra, às vezes, brota a flor, que não inspira,
a teatral camélia, a branca enfastiada. (4)
Floriram por engano as rosas bravas
No Inverno: veio o vento desfolhá-las... (5)
na corrente do riacho
vão as folhas secas. (6)
(1) - José Emílio-Nelson
(2) - Fernando Oliveira
(3) - Albano Martins
(4) - Gomes Leal
(5) - Camilo Pessanha
(6) - José Felix
Muitas mãos e mais dedos
- Como se as mãos para melhor se darem fossem senda
abríamos nos olhos o lugar onde deixáramos a noite (1)
- na ordem luminosa por onde as mãos se fazem
inteligência que desliza (2)
- Por entre incríveis e encantados freios
a mão que escreve
ilumina
da simples palavra
o trabalho obscuro em seu dentro (3)
- Os gestos vão bordando na toalha
a linha da vida em nossas mãos (4)
- Meus dedos
agora reparo, porque estou cansado, não chegam para a
minha ausência (5)
- pois são dedos de mãos presas na árvore da sabedoria,
parentes do delírio, dedos órfãos de caligrafia (6)
(1)- Alberto Augusto Miranda
(2)- Fernando Echevarría
(3)- Ana Hatherly)
(4)- Joaquim Matos
(5)- José António Gonçalves
(6)- Fernando Oliveira
abríamos nos olhos o lugar onde deixáramos a noite (1)
- na ordem luminosa por onde as mãos se fazem
inteligência que desliza (2)
- Por entre incríveis e encantados freios
a mão que escreve
ilumina
da simples palavra
o trabalho obscuro em seu dentro (3)
- Os gestos vão bordando na toalha
a linha da vida em nossas mãos (4)
- Meus dedos
agora reparo, porque estou cansado, não chegam para a
minha ausência (5)
- pois são dedos de mãos presas na árvore da sabedoria,
parentes do delírio, dedos órfãos de caligrafia (6)
(1)- Alberto Augusto Miranda
(2)- Fernando Echevarría
(3)- Ana Hatherly)
(4)- Joaquim Matos
(5)- José António Gonçalves
(6)- Fernando Oliveira
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